Aos 5 anos, um problema respiratório levou Matheus Santana para a piscina. Aos 8, o diabetes o ameaçou tirar dela. Hoje, aos 16, o carioca tem saúde para dar, vender e colecionar medalhas. Os 81 kg distribuídos em 1,87m de altura fazem o nadador chamar a atenção em qualquer roda de meninos de sua idade. Não só nela. Destaque do Campeonato Brasileiro juvenil, que começa nesta quinta-feira, em Recife, o velocista tem conquistado resultados expressivos em competições nacionais e internacionais de sua categoria e já surge como forte candidato a seguir as mesmas braçadas vitoriosas de Cesar Cielo.
Matheus começa a despontar como promessa para Rio-2016 (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)Em sua “casa”, na reformada piscina do Botafogo, Matheus parece à vontade com os colegas de sua equipe. Como qualquer menino de sua idade, as braçadas são intercaladas por brincadeiras e risadas. Mas, na hora de “falar sério”, a timidez entra em ação. A jovem promessa da natação brasileira, que mostra maturidade ao relatar a dura rotina diária que inclui quatro aplicações de insulina, ainda não sente o peso das expectativas que começam a surgir sobre ela. Nadando as mesmas provas que Cielo, as comparações com o maior nome da modalidade são inevitáveis. Ainda assim, mantém os pés no chão quando é questionado sobre o assunto.
- Eu penso nessa comparação, mas mais como uma brincadeira do que como uma coisa de verdade. Ainda falta muito para chegar até ele. Mas, se Deus quiser, eu chego lá. As conquistas dele influenciaram muito a minha geração. A gente se espelha muito nisso e tenta chegar lá, tenta conseguir algo pelo menos parecido – disse Matheus, que costuma se inspirar lendo as biografias de campeões como Michael Phelps e Bernardinho.
Recorde no Multinations faz surgir convite para treinar com ex-técnico de Popov
O rápido crescimento físico de Matheus no último ano acompanhou, na mesma intensidade, a evolução dentro da piscina. O cartão de visita foi no Troféu Chico Piscina 2011, quando venceu os 50m livre (23s82) e os 100m livre (53s28). O recorde de campeonato da prova mais curta ainda é de Cesar Cielo, com a marca de 23s29. Em março, no Multinations, competição internacional juvenil realizada na Grécia, surpreendeu ao bater o recorde do campeonato nos 100m livre, em 51s83. Nós últimos dois meses, voltou a baixar seus tempos nas duas provas. Fez 23s41, nos 50m, no Torneio Sudeste, e 51s45, nos 100m, no Maria Lenk.
- Hoje tenho certeza que quero ser nadador. O meu objetivo principal é ser o melhor do mundo nas minhas provas, ser campeão olímpico. Até 2016, vou treinar e me esforçar ao máximo, tentando sempre me manter na ponta nos campeonatos nacionais. Não tenho certeza se vai dar para pegar medalha já em 2016, mas vou estar na briga - avisou o carioca, que ainda não teve a oportunidade de conversar com Cielo.
Aos 16 anos, o nadador do botafogo tem 1,87m de altura e 81kg (Foto: Lydia Gismondi)O desempenho na Grécia foi tão surpreendente que a comissão técnica brasileira foi procurada por um suíço que trabalha com o ex-técnico de Alexander Popov, o russo Guennadi Tourestky, para convidar o nadador para fazer um período de treinamento com o consagrado treinador. A direção do Botafogo agora estuda a forma de viabilizar a ida do atleta e de seu técnico, Rodrigo Roque, para passar entre 15 dias e um mês no CT de Tenero, na Suíça.
- Eu só tenho a elogiar. É um garoto centrado, com objetivos bem claros. Se portou muito bem pessoalmente e tecnicamente na competição. Ele teve o melhor índice técnico da competição - pelo tempo nos 100m livre - entre todos os atletas dos 10 países que participaram. Fora isso, ainda fez parte do revezamento 4x100m livre que foi ouro e bateu recorde. É um dos atletas da nova geração a se observar para 2016 e 2020 - elogiou Djan Madruga, chefe da delegação brasileira no Multinations.
Outro indício de que o jovem nadador está trilhando o caminho certo aconteceu no fim do ano passado, durante uma apresentação do biomecânico da CBDA, Pedro César Marinho, no Botafogo. Um dos tópicos da apresentação foi uma antiga comparação feita entre os desempenhos de Cielo quando era infantil e juvenil e de Alexander Popov, na mesma época. Os tempos mostraram que o brasileiro já nadava abaixo das marcas do russo desde cedo. A partir desta exibição, os técnicos do Botafogo conferiram que Matheus tem hoje tempos parecidos, ou até melhores, no caso dos 100m livre, do que o ídolo brasileiro na mesma idade.
- Eles viram, na ocasião, que os tempos do Cielo eram melhores que os tempos de Popov com 15, 16 anos. E, hoje, o tempo de Santana nos 100m é menor que o tempo de Cielo quando tinha essa idade. Ele promete ser um dos destaques brasileiros em 2016. Tem tudo para isso. Tem idade, talento, vontade e tem tido uma crescente de resultados – afirmou o técnico Rodrigo Roque.
Brincalhão, o nadador dá risadas com técnico
Rodrigo Roque (Foto: Lydia Gismondi)O ex-nadador e medalhista olímpico Djan Madruga também não esconde o otimismo com a revelação. Ele ainda cita mais dois jovens atletas que prometem dar continuidade ao ótimo momento da natação brasileira.
- Essa comparação é bem válida e nos dá bastante esperança. Quando o Cielo parar de nadar, podemos ter o Matheus Santana aí. Vale lembrar que Cielo foi um atleta que explodiu tarde, mais para o fim do Chico Piscina. Então, a gente tem que esperar para ter essa comparação melhor. Mas isso já nos deixa muito otimistas. E ainda temos outros bons nomes dessa geração, como o Luiz Altamir, no borboleta, e o fundista Cássio Brito.
O biomecânico da seleção também concorda que Matheus vem provando ter talento e pode seguir os passos de Cielo. Mas ressalta, porém, que ainda não foi realizado nenhum estudo específico da CBDA com o nadador do Botafogo. Logo, ainda seria cedo para fazer uma comparação entre o jovem atleta e o campeão olímpico.
- Ainda não fiz um estudo comparando os tempos dele com o do Cielo. Teria que investigar. Talvez a gente tenha uma resposta para isso nas próximas investigações, já que vamos fechar um ciclo agora em Londres. Assim como aconteceu com Cielo, que a CBDA o apontou para um acompanhamento mais específico, é possível que aconteça o mesmo com o Matheus. Eu sei que ele é bom, que é um talento, até pelos tempos que ele vem apresentando, mas, como não tenho um estudo específico sobre ele, é complicado dizer se vai ser como Cielo ou melhor que ele - explicou o biomecânico.
Fonte : Globo.com
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